sábado, 9 de maio de 2009

Memória

Quem me conhece sabe o quanto gosto de contar histórias e estórias.
Pois bem, a que vou contar agora tem muito a ver com a minha identificação com a causa ambiental, e vem de 1987.
Neste ano, eu e meu irmão, Alan, eramos da diretoria do Centro Cívico Rosa Gattorno, do Colégio Gentil Bittencourt, e em setembro houve o acidente com o césio radioativo em Goiania, Goiás, e entre uma das soluções estava enterrar o material contaminado na Serra do Cachimbo, divisa do Pará com o Matogrosso.
Entre os protestos contra a medida, houve uma passeata de estudantes, organizada pelos gremios estudantis de alguns colégios de Belém, nascida de ideía do então coordenador estudantil do centro cívico do Gentil, Prof. Cícero, e coordenada principalmente pelo nosso centro, do Colégio Nazaré e do Paulino de Brito, com apoio da UNE, que teve um sucesso inesperado para todos os envolvidos, parando o centro da cidade, e terminando em frente a prefeitura de Belém.
Ao falar no carro som contra a medida, fui surpreendido por um senhorzinho, que com um gravador cassete nas mãos pedia a palavra. O coordenador do Centro Cívico sussurou ao meu lado
-É o Camilo Viana, deixa ele falar.
Passei o microfone ao ecologista, que simplesmente colou o gravador ao microfone e rodou a gravação.
Um barulho infernal invadiu imediatamente a praça, calando os manifestantes. Imaginei que o gravador estava com defeito, ou que dera microfonia no som, mas o velinho continuou com o gravador ligado, fazendo aquele barulho por mais ou menos cinco minutos.
Já estava impaciente, sem saber como acabar com o barulho, achando que ele ia esvaziar a manifestação, pois ninguém entendia o que estava acontecendo, ou o que o ecologista queria com aquilo.
Após cinco minutos do barulho infernal, o doutor Camilo calmamente desligou o gravador, levou o microfone aos lábios e falou:
-Isto, meus filhos, é o som das motosserras destruindo a Amazônia.
A estudantada veio abaixo, entrando em verdadeiro frenesi de gritos e palmas para o ecologista.
Até hoje eu me emociono quando lembro desta história, com a coragem e força com que este homem continua sua luta defendendo nosso maior bem, que é a natureza.

Um comentário:

Prof. Alan disse...

Depois dessa situação do césio, e de várias outras, o meio ambiente foi bandeira de muito político pra ganhar voto. Alguns que empunhavam o discurso se elegeram e reelegeram, mas estranhamente a situação só fez piorar.

Acho que certo mesmo está o Josias de Souza: a busca pela civilização é um empreendimento fracassado no Brasil.